UM DIA COM CHEIRO DE CAFÉ E POEIRA DE FEIRA

Como sempre, o dia me acorda antes das sete — ou talvez eu acorde o dia. Entre o tilintar do despertador e o cheiro de travesseiro, há o ritual de estender o forro da cama, como quem alisa a própria consciência. A patroa já está de pé, e o café sai rápido, quente, cúmplice da pressa. Um pente no cabelo, um gole de ânimo, e lá vou eu, esperando a carona, ainda com o gosto de café e planos.

Na sala de aula, o assunto veio a calhar: intoxicações por metanol — tema quente, assunto em voga. Os alunos, curiosos e participativos, mergulharam nas reações químicas como quem descobre um mistério novo. Se eu tivesse mais uns quarenta e cinco minutos, esticava o tempo como elástico de experimento. Empolgação não faltou; o relógio é que anda impiedoso.

À tarde, a folga foi só de escola — porque a vida, essa professora exigente, não dá intervalo. As tarefas vieram como bilhetes de lembrete. Amanhã tem sarau na escola de música, e os filhos foram ensaiar, afinando não só instrumentos, mas o coração da casa.

O mestre de obras não apareceu para o orçamento do banheiro da família assistida pelos Vicentinos — a boa intenção ficou adiada, como uma promessa de domingo. E, enquanto isso, os legumes da feira me esperavam, coloridos e pacientes, na pia — cada um com seus agroquímicos e suas histórias.

Tentei consertar o triturador da Tupperware. O triturador me venceu. Por enquanto. Ainda não sei se desisti ou se só adiei a revanche. Levei a filha ao treino de judô, mas ela, contundida do futsal, virou espectadora entusiasmada — e nada a deixa mais feliz do que estar entre os “samurais”.

Hoje quase fui à academia. Ontem também quase. Parece que a academia é um continente distante, e eu, um navegador sem mapa. Fiquei em casa, disparei alguns WhatsApps, organizei o trabalho e, quando dei por mim, a noite já se derramava pela janela.

Pensei no choppe, mas a patroa preferiu vinho. Aceitei o destino — e, com a taça na mão, celebrei o dia: um cipó de Tarzan*, feito de compromissos, risadas e pequenas vitórias.

*larga um e pega outro!

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