QUARTA-FEIRA EM MOVIMENTO

Acordei cedo, como sempre, mas hoje o corpo protestou — sonolento, arrastado, pedindo mais uns minutos de sossego. A casa ainda dormia, exceto o relógio, que teimava em apressar o tempo. A rotina dos dias úteis começou a se desenhar: lanche da minha filha, com pêra, suco de maracujá e o inevitável sanduíche de presunto e queijo. É curioso como o amor também se mede em fatias de pão.

Quarta-feira é dia de pão de queijo, tradição inventada por nós e mantida com fidelidade. A esposa leva o seu para o lanche do trabalho — professora universitária, como quem carrega o saber na bolsa e o cansaço nos olhos. Entre o cheiro do café e o vapor da chaleira, percebo que já não sei mais viver sem esse ritual matinal.

Levo minha filha à escola. No caminho, o marcador eletrônico pisca em protesto: combustível baixo. Lembro, tarde demais, que o aplicativo do posto ficou esquecido no celular — em casa. Mas tudo bem. Nada urgente me esperava nas primeiras horas de expediente. A patroa foi de Uber, e eu segui, entre ruas conhecidas, com o pensamento solto e o tanque quase vazio.

Mais tarde, passo pela universidade, deixo minha esposa em casa e sigo para buscar minha filha. O dia avança e meu filho já prepara o almoço, cheiros de alho e panela que dão notícia de que a casa vive. Retomo o trabalho no turno da tarde e encerro o expediente no melhor dos palcos: a arquibancada. Lá está ela, minha craque do futsal, correndo, driblando, e — veja só — marcando um gol. Um gol simples e bonito, desses que enchem o peito de alegria silenciosa.

Sou Vicentino, e hoje é dia de reunião. Entre compromissos e compassos, penso em ir à academia, mas o destino muda o roteiro: acompanho minha esposa ao hospital. Uma dor no pescoço, uma suspeita de pressão alta. Enquanto esperamos o atendimento, observo a cidade lá fora — viva, inquieta, com seus bares cheios, motoristas apressados, e essa pressa de quem quer chegar logo ao lar.

Antes de encerrar o dia, ainda passo no escritório. Organizo papéis, deixo tudo em ordem para amanhã. Fecho a porta, desligo as luzes. O corpo cansado reclama, mas o coração entende: há dias que cansam e, mesmo assim, valem a pena.

E a quarta-feira termina assim — com café, correria, afeto e um gol da minha menina, que fez o dia valer o combustível, ainda que pouco.

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