NOSSO DIA DA BANDEIRA

NOSSO DIA DA BANDEIRA
Aloízio de Oliveira
O telefone toca e a quem mais interessaria aquela ligação, naquele dia, senão a aprestada que atendera dizendo sempre: “- Ahh! Obrigada…Obrigada, que é isso!” e ainda completando as ligações com um tradicional…”- Quem sabe, vem!”. Era assim que aquele dia começava naquela humilde residência, não tão humilde assim, pois era a única em um raio de quinhentos metros que possuía um telefone. Até que uma bandeira verde-amarela passasse a fazer parte de nosso cotidiano, dia da bandeira tinha outro significada para nós. Hoje, por força de regulamentos, dia da Bandeira pode ser o que acham que é, mas para nós será sempre, o dia da bandeira.
Telefonemas recebidos, casa arrumada, encomenda pronta, bolo confeitado, quem seria a freguesa da vez? A aprestada recebedora de telefonemas era, além disso, confeiteira e salgadeira que atendia encomendas. “-Se não vierem buscar, agente se serve e pronto!” era o que aquela senhora no auge de seus trinta e cinco anos, que nunca saíram disso, respondia a três pares de olhos incrédulos a especular.
Pessoas distantes se achegavam como visitas inesperadas e aquela senhora se predispunha a melhor recepciona-los e na desculpa de não ter o que servir lançava mão em desinteirar as encomendas das sagradas freguesas. Quando muitos se achegavam, cadeiras dos vizinhos eram emprestadas, varandas e quintais eram expandidos, tudo para melhor acomodar os visitantes, que insistiam em desinteirar as quantidades encomendadas, para desespero dos três pares de olhos esbugalhados.
A noite chegava e dentro em breve o patrão da casa por lá estaria. Chegaria cansado, perguntando aos filhos, os dos três pares de olhos esbugalhados, como andavam as coisas, quem já tinha aparecido, como se soubesse de algo que aqueles três pares de olhos não soubessem.
Dos que “- Quem sabe vem!” ficava a esperança de receber a visita de uma ilustre irmã, rica, de criação, que nunca pode vir, até que na eminência de uma bancarrota, avisou que por lá estaria, pedira apenas que um dos pares de olhos esbugalhados a espera-se no ponto, “- No ponto?” desdém por desdém ainda preservou muito do renome, viera também desinteirar as encomendas daquele dia da bandeira.
O dia da bandeira era na verdade a data natalícia daquela senhora, mãe dos três pares de olhos esbugalhados, casada com o patrão que chegava cansado. Virou sinônimo e fora comemorado até o seu último dia da bandeira, não como sendo, mas como o sempre foi.
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