CRISTO AO CHÃO

CRISTO AO CHÃO
Aloízio de Oliveira
Naquele domingo, Deus, na liturgia religiosa, nos sugeria através do Evangelho de Marcos (12,38-44) um modelo de servidão, de seguidor, de discípulo de sua Palavra. A generosidade sendo um sentimento e a palavra-chave que deve conduzir nossos passos no serviço a Deus e ao próximo. A celebração prosseguia e o pregador em suas palavras, na homilia, aconselhava que deveríamos não nos dar dividido, deveríamos nos dar por inteiro. É assim que o Senhor olha a intensidade da nossa oblação, da nossa entrega, do nosso sacrifício.
Com estas palavras guardadas, segui comovido ao encontro com Cristo e postado na fila, seguia ao chamado de: “- Corpo de Cristo”. O ministro e seu cibório ao se posicionarem para a distribuição eucarística, distraidamente ficaram bem abaixo de um dos ventiladores do templo. Eis que ao chegar minha hora por um descuido ou obra do acaso lá se foi Cristo lançado ao vento sob olhares incrédulos, indo de encontro ao chão, bem ali a minha frente e eu impotente perante o ocorrido. Ele aos meus pés, aquela lasca sagrada, o bocado divino, o estilhaço sacro, a fatia venerável, fragmento santo, augusto pedaço ou do que queiram chamá-lo. E o que aquela ocorrência pode me significar? O inusitado caso de Cristo humildemente se postar aos pés, a nosso dispor, como sempre, e não o contrario, não daquela forma tão direta. Seria a pregação homilética traduzida em um gesto? Eu que o tinha no alto, estava ali com Cristo aos meus pés. O ministro cuidadosamente abaixou-se, pegou-o, guardando-o separadamente.
Quando da minha vez de receber o Corpo fui logo exigindo: “- Quero este!” apontando para a hóstia separada. O ministro nem retrucaria “- Se faz questão… Corpo de Cristo!” ou então e por que não: “- Por que esta?” Se pudesse lhe explicar em poucas palavras lhe diria que na homilia… mas a fila andava e eu conciso disse-lhe: “- Faço questão!”
Queria sentir o gosto da terra e ter vontade de brotar usufruindo daquilo que me sustenta. Só de ver Jesus se mostrando na simplicidade e ao meu alcance bastava. Nunca experimentara tal sensação: Ver o Cristo lançado ao vento ao encontro dos teus.
Ao final da celebração busquei mais de seus pedaços arrastando os bancos, me ajoelhando querendo salvar o sacrificado Corpo abandonado. Que sensação indescritível ser incapaz de juntar os seus restos e reverencia-los.

(Visited 4 times, 1 visits today)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *