Morei na rua dos fundos da Matriz da paróquia Nossa Senhora Aparecida. Minha família sempre esteve envolvida nas celebrações paroquiais. Convivi por um bom tempo com o primeiro pároco, Padre Orlando, o brasiguaio. Hoje recebemos a notícia de sua morte por complicações da Covid.
Minha família, pelo menos da parte de minha mãe, Dona Aloína, sempre esteve ativa com as atividades da Igreja Católica. Ela foi Filha de Maria. Casou-se na Perpétuo Socorro, batizou e crismou os filhos segundo a orientação. Sempre fomos vizinhos da igreja e sempre chegamos cedo para as celebrações, desde o tempo em que por ali se situava a capelinha. Ela juntamente com meu pai, Seu Anísio, foram cursilhistas e membros ativos da administração da Matriz. Eles inclusive se tornaram Ministros da Pastoral da Messe.
Lembro-me das promoções para a construção do, inicialmente, Centro Comunitário e posteriormente a majestosa Igreja matriz. Nossa casa oferecia a estrutura da cozinha para o preparo da comida de muitas festas. Éramos presença certa nas festas juninas, que aconteciam nas noites frias e escuras da longínqua Vila Planalto.
Na gestão de Dom Antônio Barbosa a Paróquia Perpétuo Socorro foi desmembrada, sendo que a matriz da nova paróquia passou a ser na igreja Nossa Senhora Aparecida. Foi designado para a função de pároco, o vigário da capela, Padre Orlando. Apesar da estrutura física, outras necessidades para o funcionamento vieram a posteriori. A casa do padre foi construída bem depois. Acho que o primeiro bem adquirido, graças a doações, foi um chevette cinza, que ainda não tinha garagem. Com ele o padre fazia sua via sacra. O funcionamento da paróquia não se furtou a estas demandas.
Não seria possível contar algo sobre o digníssimo padre sem relembrar estes acontecimentos. Ele se entregou ao ofício de corpo e alma. Fiéis para auxiliar havia aos montes, assim com os que não ajudavam em nada além de atrapalhar o bom funcionamento. Hoje o que se vê teve apoio e desavenças.
Eu estava em plena juventude e como bom fiel, me engajava nas atividades dos jovens. Fiz parte do grupo de jovens, mas antes de tudo eu era filho da diretoria. Fui catequista, até virar notícia das páginas policiais. Apesar de tudo, guardo comigo a mão estendida do padre Orlando. Nunca teria motivos para desaboná-lo. Houve uma época que acompanhava o padre nas celebrações em outras capelas. Ia ao Lar do Trabalhados, Vila Guarani, capela Santa Terezinha, além das celebrações na matriz. Nossa convivência se intensificou quando meu pai veio a falecer. Nossa família teve um apoio de valor inestimável. Recorria a seu auxílio, mas não como confessor, conselheiro ou coisa parecida, mas como um amigo. Ele sempre teve olhos atentos a nós. Poderia ter sido muito mais ativo. Teria aprendido muito mais com aquela convivência, mas preferi ouvis a voz do mundo. Desapareci das celebrações.
Nossa casa sempre esteve aberta para receber o pároco. Lembro-me de quando algum visitante ilustre estava em visita à paróquia, minha mãe se dispunha a realizar um farto almoço.
Depois de muito tempo o reencontrei no Comper da Brilhante. Ele me deixou o endereço da Cúria e convidou-me para um café, mas a voz do mundo não permitiu.