Saudade da minha Avó

Minha falecida avó era uma pessoa muito certa. Cuidava da moral e dos bons costumes dos que cercavam sua, numerosa, família. Acho que nunca a ouvi dizer sobre o que é certo ou errado, mas diante do fato e dos protagonistas ela sempre perguntava: então você acha que isto está certo? Com aquela entonação que fazia os conceitos serem repensados.
Sempre que ela podia, dava um pitaco. Me lembro de quando quebrei o braço, ao cair do mamoeiro virado a pau-de-sebo em festa junina, e fiquei engessado por quarenta e dois dias, isso mesmo, contado na folhinha. Eu era aluno da professora Noêmia Silva, no José de Anchieta. Havia quebrado o braço direito, o da mão que escrevo. Penei em suas aulas escrevendo engessado. No dia em que voltei do “Marechal Rondon” sem o gesso, mas com o braço ainda na tipoia, minha avó logo que me viu disse: esse braço não está bom! Antes de me dizer “deus abençoe”. Eu querendo, e torcendo, para que não fosse verdade, forçava a barra e soltava o braço, ainda doído, para provar o contrário, mas ficava bem quieto com aquela dor de braço mal curado. Minha avó tinha visão de raio-X.
O que me trouxe aqui não era para falar do braço quebrado, nem do pau-de-sebo, nem da visão de raio-X da minha avó. A saudade que eu tenho é dos comentários sarcásticos que ela fazia perante algum fato, principalmente no tocante a algum acontecimento jornalístico radiofônico, televisivo ou alguma manchete do Correio.
Bandido permanecia vivo naquela época, e ainda hoje, porque não havia aparecido por aqui um novo “Fidel Castro”! esse país seria outro se meio mundo fosse mandado para o paredão, segundo sua análise socio-judice-político-penal. Ela nunca economizou palavras para chamar o tal “Fidel Castro”. Não que ela fosse, e deus nos livre, comunista, mas guardadas as devidas proporções ele por aqui estaria fazendo falta. Para ela, ele executava a sentença e depois analisava os recursos, como muitos executores atualmente fazem, principalmente se o suplicante for desfavorecido economicamente, ou seja, pobre.
Hoje ela ficaria doida, ou não falaria em outra coisa, a não ser evocar o santo nome de “Fidel Castro”. Advogado mentindo perante as câmeras de TV, isso só é possível porque por aqui não tem um “Fidel Castro”. Por ele, a muito tempo, um sujeito destes já teria ido para o paredão e … tá tá tá tá tá Mandava esse FDP contar mentira no quinto dos infernos.
Se aparecesse alguém desviando verba da saúde, não teria outra sentença, a não ser evocar novamente o incansável “Fidel Castro” e o infalível paredão e… tá tá tá tá tá. Isso sim daria jeito neste país. Sem falar nos políticos com foro privilegiado. Ex-Ministro fanfarão então, nem embarcava para os “isteites”, no aeroporto mesmo tá tá tá tá tá, ia chamar juiz de vagabundo na casa do capeta. Muito senador já teria ido rachar o salário com o tinhoso.
Imagino, e ouço, suas palavras para estas pessoas que insistem desrespeitar as autoridades sanitária nestes tempos de epidemia:
– A pessoa já sabe que o trem é perigoso, por que não se cuida? Não fica em casa? Não usa máscara? Me parece que não está nem aí para a voz do Brasil? É por isso que eu sempre digo… se por aqui tivesse um “Fidel Castro”, era só colocar o exército na rua, nas festas, na Afonso Pena, no aeroporto e tá tá tá tá tá e esse pessoal ia aglomerar nas trevas. A quarentena já teria acabado faz tempo! E o mundo voltaria a normalidade, sem o “Fidel Castro”.

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