Da Série “As cagadas que eu fiz”
O cunhado colou grau no dia anterior e naquele dia haveria a festa de formatura, lá no Amansul, perto dos Novos Estados, e é claro que eu havia sido convidado, afinal de contas quem levaria minha mãe?
Liguei no final da tarde avisando a namorada sobre o evento. Ela até sabia da festa e do lugar onde seria e seria quase que lógico aquilo, só não sabia que também seria convidada, nem em cima da hora. Disse que não iria. Que achava uma desconsideração o “convite” de última hora. Tentei explicar-lhe da necessidade de acompanhar minha mãe, pois minha irmã iria com o cunhado e não voltaria para casa, naquele dia. Minha namorada perguntou-me se eu ainda não tinha desconfiado daquilo. A festa estava sendo preparada a mais de quatro anos e só agora haviam “lembrado de você”, que papel o seu hein!
Eu nunca iria pensar aquilo do cunhado, uma pessoa bem afeiçoada, fina, cortes e de família rica. Não queria pensar naquilo. Fui egoísta. Só pensei no meu bem, de minha irmã e de minha mãe.
Minha namorada me perguntou por que meu irmão não iria no meu lugar. Eu respondi que ele havia declinado do convite, na véspera. Eu me achei o máximo. Iria à festa de formatura da grã-finagem. Me serviria de um delicioso jantar, beberia da melhor cerveja e agradeceria ao garçom uma dose do melhor whisky trazido do Paraguai. Teria oportunidade de encontrar pessoas chiques e com elas ter assuntos diversos para conversar.
Avisei a namorada que passaria em sua casa lá pelas vinte e umas. Naquela noite a “Belinosa” seria nossa, depois de deixar a mãe em casa. Ela me disse e repetiu algumas vezes que não iria e que se eu quisesse que fosse. Eu tive que argumentar: mas benzinho…
Depois das vinte duas conseguimos chegar ao salão de festas, isso depois de esperar infinitamente no portão da casa da amada. Chegando lá não deu outra, procuramos pela mesa reservada, que para nossa surpresa tinha dois lugares. Eu bem poderia ficar em pé, desde que o garçom me arrumasse uma tulipa e não deixasse meu copo vazio. Cumprimentei o cunhado pela conquista, e disse-lhe que o percentual de estudantes que alcançam esta posição é muito pequeno e que ele, agora, passava a fazer parte de um grupo seleto, os que possuíam diploma universitário. Ele quase não me escutou por inteiro, pois alguém o havia chamado, mas ficou de voltar e fazer um blinde. Tive que blindar sozinho, e em pé, ao lado da mesa onde minha mãe e minha namorada, caladas, estavam sentadas, dividindo com outros desconhecidos convidados. A meu ver muito simpáticos, pena que não tive oportunidade de falar com algum deles.
Depois de muitas cãibras, minha irmã veio nos convidar para dividir a mesa onde eles estavam. Outros convidados tiveram que sair mais cedo e os lugares estavam vagos. Não perderia esta oportunidade. Me adiantei me pus sentado, para meu alívio. Minha mãe e minha namorada concordaram com uma coisa: já estava na hora de também irmos, pois já era tarde! Minha irmã também, só eu achei que ainda caberia mais umas tulipas. Ainda não blindara com o cunhado, que pouco vi pelo salão. O que eu vou fazer se fui voto vencido.
Na nova mesa, a sogra da minha irmã me disse que quando serve o jantar e a banda toca Polca paraguaia e um aviso de que a festa acabou. Não deu outra, pelo menos para nós.
Deixemos a mãe em casa. Ela me perguntou se eu não iria levar a namorada primeiro, pois já estava tarde e… falei que a levaria depois.
No caminho de volta demos uma parada providencial. Fui logo me ajeitando para… melhor ouvir a ensaboada que tomei da amada. Ela me chamou de “baba ovo” de cunhado, que teve que se maquiar correndo, que teve que emprestar vestido, que disse que não queria ter vindo, que seria a última vez e que não haveria outra, estamos entendidos![LS1]