VIAJAR DE TREM

Viajar de trem é nostálgico, pelo menos para mim que percorri trajetos interioranos. Nunca me vi em um modelo moderno de velocidade compatível com a pressa desta modernidade. Guardei momentos que, depois que parei para pensar, acho que jamais teria feito.

Quando minha prima Zaira morava em Ponta Porã, seu filho mais velho, o Alex, completou um ano. A festa de aniversário foi por lá. Como tratava-se do primeiro neto da minha tia Adelaide e primeiro bisneto de minha avó Guimar, fomos todos prestigiar a festinha. Todos os primos e suas respectivas mães e mais uma penca da parentalha. Passamos momentos inesquecíveis, inclusive desde a viagem de ida, de trem. Embarcamos pela manhã na estação ferroviária de Campo Grande e chegamos, depois de horas de atraso, em Ponta Porã às vinte e duas. O trem quebrou depois de Maracaju e ficamos aguardando socorro que viria de Campo Grande. Enquanto o socorro não chegava, quem chegou foi a escuridão da noite e sensação de uma possível visita das onças que transitaram pelo local e haviam deixado os rastros nas areias da beira dos trilhos. Hoje as festas de aniversário infantis têm como diversão aqueles brinquedos sem graça, como o pula-pula e o escorregador. Bom mesmo era no meu tempo, em que íamos para festa de trem que enguiçava, ficava parado no meio do nada, coberto pela escuridão da noite sendo observado pelas onças. Minha avó, minha mãe e minhas tias também tiveram as mesmas emoções.

Outra lembrança remota que tenho foi de uma viagem para Corumbá. Fui com a Banda Marcial de Campo Grande. Tocamos no aniversário de 200 anos da cidade. Fomos de trem, no último vagão da composição, que estava reservado para nós. Acho que se locava o vagão e embarcava o quanto coubesse de passageiros. Nesta viagem eu estava muito assustado. Era a minha primeira viagem sem meus pais, não que eu vivesse viajando, mas sob os cuidados de estranhos era a primeira. Me comportei conforme o recomendado, o máximo que fiz dentro do trem foi ir até o banheiro e olhar pela janela. Me lembro de atravessar a ponte sobre o rio Paraguai quando o dia estava amanhecendo.

Em outra oportunidade também fui a Corumbá, mas desta vez bem mais souto. Acho que pouco me sentei na minha poltrona, queria experimentar a liberdade. Já era adolescente, querendo me aparecer. Passei a maior parte da viagem, que desta vez foi feita durante o dia, sentado nos degraus da porta do vagão do lado de fora, me segurando apenas no corrimão, sem nenhum cuidado com a segurança. O trem desenvolvia uma boa velocidade e acho que por qualquer descuido eu poderia ser arremessado para fora do trem. Hoje me penitencio: Que santa ingenuidade a minha! Em casa meus pais aguardando meu retorno e eu me arriscando pendurado na porta do vagão.

Não tão distante na memória, fui junto com a família até Campinas e embarcamos em passeio de trem em um trajeto que percorria as antigas fazendas de café. Da mesma forma que me comportei na segunda viagem a Corumbá, lá eu estava novamente transitando por entre os vagões, só que desta vez com minha filha, de quatro anos, no colo. Uma coisa bem previsível era minha queda, ou de minha folha, nos trilhos do trem em movimento. Não havia necessidade de ter aquele comportamento. Bastava sentar-se e aproveitar a paisagem passando pela janela. Me penitencio novamente, mas por felicidade estamos todos vivo, podendo contar esta história.

Momentaneamente não tive noção dos acontecimentos dentro daqueles vagões. Torço para ter outras oportunidades para refazer estes trajetos e poder ocupar outras poltronas para sentir a segurança de comportamentos adequados. Queira Deus!

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