Apesar de todo aparato moderno para marcação de horas e de estarmos rodeados de dispositivos eletrônicos, ligados o tempo todo, com mostradores que fornecem o tempo exato, me dou ao disparate de ainda ter, e usar, um relógio de pulso, digital, daqueles que cronometram, despertam e até marcam a hora.
Meu relógio, que comprei por R$ 50,00 no KK presentes, é digital e fica no meu pulso por uma questão de praticidade. É para ficar informado sobre o horário dos acontecimentos, sem ter que apertar nenhum botão, como muita gente tem feito ao consultar a hora nos celulares. Além do visual as informações me chegam através e sinais sonoros. A hora cheia é anunciada por um bip breve, já as seis e as sete horas os sinais sonoros são mais persistentes, eu acho que está programado como hora para despertador, apesar de nunca ter me despertado nestas horas. Quando eles tocam já estou despertado. Não me pergunte como eu fiz esta programação nem como desativá-lo, o que sei do seu funcionamento é acertar a hora e olha lá.
Em casa tenho um outro relógio digital, que fica ligado na tomada o tempo todo, bem na frente da cama. A posição em que ele está não tem como escapar de seu mostrador, ele aponta em todas as direções. Com ele eu tinha um grande problema: No horário de verão eu nunca me lembrava dos procedimentos para acertar o horário. Quando ele era novo, eu ainda tinha o manual impresso, com o passar do tempo não sei onde foi parar e tive que ir ao Google e assistir uns vídeos no YouTube. Fiz um ementário e colei na parte de cima do relógio para usar quando o horário de verão começava e quando terminava. Ultimamente o horário de verão saiu do ar e o relógio se mantem intacto. Como cogitaram antecipar novamente em uma hora, nos próximos anos, fui lá e reli minhas anotações e acho que ainda estou conseguindo lê-as.
As vezes fico indignado com a indiferença destes marcadores de tempo. Independente do contexto, lá estão com seu sinal sonoro avisando que o seu dia alcançou o intervalo esperado, independente de nossa vontade. Quando ouço o sinal, sempre me vejo apressado, me sinto impotente por não poder controlá-lo. Quanta indiferença destes equipamentos. Se pudesse controlá-los, pediria sua colaboração: que só despertasse depois de saber que o descanso foi suficiente; que só marcasse a hora do almoço quando todos estivessem reunidos à mesa e marcasse a hora de dormir assim que todas as luzes estivessem apagadas, assim como a hora de chegar ao trabalho com o mostrador figurando na hora que já estivéssemos a postos. Mas o equipamento é implacável, acho que o nosso modo de lidar com o tempo ainda não é de nosso domínio.
Creio que chegará um dia em que nossas ações não estarão enquadradas nos limites das horas, mas quando acontecerá? Será que um dia nos livraremos das horas e nos pautaremos em nossas vontades e necessidades? Os nossos acasos poderiam ser delimitados pelo início e fim de tarefas que achássemos que valeriam à pena. Ignoraríamos os relógios, mesmo os que insistissem entrar em nossos ângulos de visão e nós nem ai para eles, mas eu acho que vai demorar, talvez quando não tivermos mais pressa.