Quando Maria percebe que a alegria não podia terminar

Um casamento aconteceria em Caná da Galileia. Naquele tempo, diferentemente de hoje — quando a festa do casamento dura poucas horas, regulada por listas, credenciais e lugares marcados — uma festa do casamento era um acontecimento comunitário. A celebração se estendia por vários dias, às vezes por mais de uma semana, e envolvia não apenas os convidados diretos, mas também parentes, amigos, vizinhos, convidados dos convidados e seus agregados. Era, de fato, uma festa do povo.

Jesus, sua Mãe e os discípulos estavam presentes. Foram convidados. E isso, por si só, já nos ensina algo fundamental: Jesus participa da vida humana, das alegrias simples, das celebrações familiares. Ele não se coloca à margem da festa; ele entra nela.

No meio da festa, Jesus conversava com seus discípulos e reafirmava o valor do matrimônio como uma união sagrada, querida pelo Pai. Recordava as Escrituras: “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, unir-se-á à sua mulher, e os dois serão uma só carne.”

Ensinava que o casamento não é apenas um contrato social, mas uma comunhão profunda, espiritual, onde dois se tornam inseparáveis. Quando alguém tocava no tema do divórcio, Jesus, com serenidade, depois de levar a taça aos lábios, respondia com firmeza:

“O que Deus uniu, o homem não separe.”

Jesus ensina que o divórcio devia ser evitado, exceto em casos de imoralidade sexual, reforçando a seriedade e a sacralidade do compromisso matrimonial. E o assunto se encerrava ali.

A festa continuava. Jesus estava à vontade. Conversava, escutava, partilhava o pão e o vinho com os discípulos. Não via motivo para que aquele momento de convivência fosse interrompido; sua hora ainda não havia chegado. Ainda não era tempo de sinais, mas de presença.

Foi então que algo simples e, ao mesmo tempo, grave aconteceu: o vinho acabou. O anfitrião não previra o tamanho da festa. A providência humana falhara. E, numa cultura onde o vinho é sinal de alegria, de bênção e de abundância, sua falta ameaçava transformar a celebração em constrangimento.

Maria percebeu. Antes que o problema se tornasse público, antes que a alegria se dissipasse, ela viu. Como toda mãe atenta e como toda mulher sensível à vida concreta, notou que a festa corria o risco de se apagar. Aproximou-se de Jesus e disse apenas: “Eles não têm mais vinho.”

Não foi uma ordem. Não foi uma cobrança. Foi um ato de fé. Maria não explicou o problema, não acusou o anfitrião, não dramatizou a situação. Confiou. Conhecia o Filho. Sabia de seus limites humanos, mas também sabia de sua identidade profunda.

Jesus sentiu o peso daquela constatação. Não porque desejasse se mostrar, mas porque ainda queria permanecer ali, no meio da festa, na alegria partilhada, e de taça cheia, no tempo que antecede a revelação plena. Por isso respondeu, com certa resistência:

“Mulher, que tenho eu contigo? Minha hora ainda não chegou.”

Era como se dissesse: ainda não é o momento de transformar a festa em sinal; ainda quero apenas ser convidado, não revelado.

Maria, porém, não discutiu. Não respondeu a Jesus; respondeu à situação. Voltou-se aos serventes e pronunciou palavras que atravessam os séculos como uma das mais breves e profundas catequeses do Evangelho: “Fazei tudo o que Ele vos disser.”

Jesus, então, assume. Se a festa ainda não havia terminado, se a alegria não podia cessar, se o bem de todos estava em jogo, então que as talhas fossem cheias. A água tornou-se vinho — não qualquer vinho, mas o melhor.

Assim, antes mesmo de sua “hora”, Jesus realiza o primeiro sinal. Não por vaidade, não para se impor, mas por amor. Não para se mostrar, mas para salvar uma festa. O milagre acontece num casamento, numa celebração, num espaço de alegria compartilhada.

Em Caná aprendemos que Maria acredita antes de ver, confia antes de compreender e age para que a alegria não falte. Seus esforços não são para o extraordinário, mas para o essencial: que a festa continue, que a comunhão seja preservada, que ninguém seja envergonhado. Porque, no fundo, a fé de Maria trabalha sempre assim: silenciosa, concreta e eficaz — não para roubar o centro do Filho, mas para garantir que a alegria, sinal do Reino de Deus, permaneça viva entre nós.

Revisão e apoio editorial realizados com o auxílio do ChatGPT (OpenAI).

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