NÃO LI POLYANA

Quarenta de dois anos depois, tive contato com o livro Polyana, de H. Porter. Estava na oitava série quando a professora Geni, saudosa, nos recomendou. O livro havia sido utilizado por meu irmão no ano anterior. Vocês acham que li? Fiz até prova, mas não me lembro da minha nota.

Quando comentei com a psicóloga, com quem trabalho, que estava lendo Polyana, ela me comentou que existe o complexo de Polyana, ou seja, existe um lado bom das coisas ruins, resultado literal do livro. Mas era bom tomar cuidado, se não viraria paranóia.

Será que se eu tivesse lido, como agora estou, o livro, teria tido outra visão dos acontecimentos que me ocorreram neste intervalo de tempo, 42 anos? Como teste vou tentar me recordar dos acontecimentos do ano da minha oitava série e neles aplicar o complexo de Polyana.

Naquela oitava série eu achava que não sabia nada. Estudava no Adventor Divino de Almeida, o ADA, e era sempre um dos piores alunos. Não sabia e não tinha afinidade por inglês. Gostava de correr e não gostava de jogar basquete. Havia mudado de escola naquele ano e minhas novas amizades não perdurariam, pois não ficaria mais do que aquele ano. Meu pai sofreu um acidente de carro, junto com meu irmão mais velho, e por pouco não tiveram maiores complicações. No final do ano a comissão de formatura foi ludibriada e o dinheiro arrecadado desapareceu, fazendo com que nossos planos fossem alterados. Diante do exposto, se eu tivesse lido o primeiro capítulo, teria argumento para realizar a prova e tirar uma boa nota, mas não li e não devo ter encarado a vida com este complexo. A verdade é que estou vivo e querendo encontrar motivos para minhas frustações.

Que bom que eu não era o melhor aluno, porque senão eu teria que tolerar as aproximações indesejadas daqueles companheiros chatos. Sendo eu um aluno medíocre não precisaria ter que achar uma desculpa para me esquivar e em vez disso aproveitaria o melhor o tempo com meus pensamentos solitários. Como os melhores alunos eram paparicados!

O meu problema com o inglês era irremediável e acho que o complexo não seria aplicável a mim. Acho que perderia a jogada. Não me destaquei em outras disciplinas para justificar meu desinteresse, não aprendi outro idioma em detrimento a esse, além disso não pude cantar junto com o Frank Sinatra as suas canções no show que fez, em 1980, no Maracanão: let me trai again! Mas ainda bem que me deixaram tentar novamente e acho que me viro, hoje, no idioma.

Ainda bem que gostava de atletismo, porque o resto dos meninos da escola só queria saber de basquete. Eu pude me destacar na prova de resistência, ou seja, só eu resisti na seletiva. Fui inscrito, mas no dia da prova a delegação se atrasou e quando chegamos ao Belmar Fidalgo a prova de 5000 metros já estava rolando. Pelo que pude ver do desempenho dos outros atletas o tempo deles era bem melhor que o meu. Acho que neste caso o complexo valeu: que bom que eu não participei da prova.

Minhas novas amizades, no ADA, eu nem pude usufruir, pois no final do ano peguei minha transferência para uma escola onde nenhum dos antigos companheiros se matricularam, perdi o contato com todos, nem fotos eu tenho daquela época, foi melhor não me apegar, acho que sofreria mais.

Meu pai poderia ter sofrido um acidente fatal, foi o que indicou a perícia feita no que restou do Fiat 147, que capotou com ele e meu irmão, em uma curva da estrada que dava acesso ao Cera, em Aquidauana. Que sorte saírem com poucas escoriações. O carro ficou destruído, mas a vida foi preservada.

Não pudemos fazer a excursão com a turma que se formou na oitava série. Iríamos para as praias de Santa Catarina. Eu até cheguei a montar a mala. Seria uma mala enorme, difícil de carregar, mas na hora “H” quando já estava no ponto de embarque, fui informado que não haveria mais e que a professora havia fugido com o dinheiro etc. Em troca haveria um baile de formatura, muito melhor do que carregar aquela mala pesada, de arriscarmos a vida na descida da serra de Santa Catarina, do que nos perdermos na praia e de nos afogarmos no mar. Acho que o jogo teve seu momento de vitória.

Em outras oportunidades poderia ter colocado em pratica o complexo de Polyana, a vida nos reserva muitas surpresas.

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2 Comentários

  1. Adenir Pinho 15/01/2022 em 8:35 am

    Boa tarde!
    👉Uma otimista incurável, Pollyana não aceita desculpas para a infelicidade e empenha-se de corpo e alma em ensinar às pessoas o caminho de superar a tristeza. Assim cativando a todos que passam por seu caminho com o “Jogo do contente”.
    Confesso que no início essa felicidade excessiva de Pollyanna me pareceu irritante, forçada. Depois, percebi que este desconforto dizia mais sobre mim do que sobre Pollyanna. A verdade é que todos nós, com o passar dos anos, perdemos essa alegria genuína de viver tão comum na infância.
    Um livro que sem dúvida alguma todos deveriam ler, ainda mais nos tempos de hoje onde há tanta intolerância e falta de amor no mundo. Pollyana nos mostra que a vida pode ser alegre e mais leve se nos desapegarmos daquilo que nos faz mal.👈

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    1. Aloízio Oliveira 24/01/2022 em 9:05 pm

      Obrigado por sua contribuição em divulgar o Blog e o Livro.

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