20 – O SUPOSTO SUPOSITÓRIO

     A cliente aproximou-se do balcão do estabelecimento e apresentou a receita médica. Estava prescrito um anti-inflamatório, na forma de supositório, para ser usado uma vez ao dia, por cinco dias.

     -Tem? Quanto é?

 -Temos, aqui está! Respondeu o balconista, apresentando a caixa do medicamento com os cinco supositórios necessários.

   -Quantos vêm na caixa? Dá para os cinco dias?

   -Sim!

   Após fazer o pagamento, a cliente agradeceu o atendimento e quando estava de saída, lembrou-se de perguntar como era para ser utilizado o medicamento.

   O farmacêutico lhe disse que o doutor tinha prescrito um supositório e, como a cliente demonstrou ter entendido do que se tratava, chamou o próximo cliente.

   A cliente do anti-inflamatório, que havia dado mais alguns passos em direção à porta da frente, retornou solicitando mais alguns esclarecimentos. Para tanto teve que aguardar a finalização do atendimento que o farmacêutico fazia ao cliente que tinha chegado logo após ela.

   “supositório pode ser tomado com leite?”, “Estou perguntando por que tenho problema no estômago e anti-inflamatório me causa queimação.” Foram as frases ditas pela cliente recém atendida no balcão.

   “A senhora está falando de anti-inflamatórios em comprimidos, este que a senhora comprou vem em supositórios.”

   “Então não tem problema com queimação? Posso tomar sossegada?”

  O farmacêutico ficou em dúvida sobre o conceito que a cliente possuía de supositório. Ele não deveria ser ministrado pela boca e muito menos com leite.

   “Supositório não se põe na boca” disse o farmacêutico à cliente esperando uma reação de espanto da cliente. “É para uso retal!” finalizou a explicação sobre a posologia do medicamento.

   “Retal quer dizer que é para eu enfiar onde estou pensando?” perguntou a cliente ao incrédulo e espantado balconista, que na defensiva buscava uma forma de se safar de tamanha enrascada.

   As pessoas não nascem sabendo onde se usa um supositório e não aprendem.  Como explicar para alguém como usá-lo? Se explicar parece constrangedor, usá-lo então, nem se fala.

   “No reto.” Tentava explicar a utilização do medicamento à paciente.

   “Se o senhor puder ser mais claro, eu agradeço.” Desta vez a cliente paciente demonstrou certa impaciência com as explicações, ou tentativas, de como utilizar o tal supositório.

   Ao ouvir a última explicação do farmacêutico a (im)paciente rasgou o embrulho e abriu a caixa onde estavam os cinco supositórios receitados. Com a embalagem nas mãos, pediu ao farmacêutico que lhe ensinasse primeiro como retirar aquele enorme comprimido, disposto na cartela plástica.

   Os supositórios são embalados em cartelas lacradas, que devem ser abertas uma a uma conforme eles são utilizados. O excipiente tem ponto de fusão próximo à temperatura corporal e se derrete assim que entra no orifício. O princípio ativo é liberado e a absorção é facilitada em pacientes com dificuldades para deglutição ou para medicamentos onde é preferível evitar o estômago, como era o caso da paciente, sem falar que a dose administrada é menor, evitando também danos ao fígado. Em termos de biodisponibilidade eles levam vantagens. Sua administração deve ocorrer depois dos intestinos terem sido evacuados do contrário, ele poderá ser expulso prematuramente. Eles podem não ser agradáveis a quem os utiliza, mas serve como uma alternativa para administração de vários medicamentos, inclusive anti-inflamatórios.

   O farmacêutico teria que explicar toda a parte técnica para o manuseio do medicamento que o ato de o enfiar no cu seria apenas um detalhe.

  De posse da cartela com os supositórios, alertou-a sobre a temperatura ambiente, que poderia interferir na firmeza do conteúdo, se fosse necessário a caixa deveria ser guardada dentro da geladeira e retirada no momento de ministrar a dose. Mostrou-lhe também uma pequena aba por onde ela deveria abrir a cartela e retirar o supositório da dose. De posse dele deveria procurar uma posição onde alcançaria o orifício com facilidade. Todo este procedimento deveria ser feito de forma sincronizada, pois o supositório fora da embalagem poderia se derreter.

   -Se eu não conseguir aplicar, o senhor conhece alguém que pode fazer isso por mim?

   -Conheço!

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