SENTIDO OBRIGATÓRIO
Aloízio de Oliveira
Se caminhos são óbvios, destinos são evidentes.
Aprendemos traçá-los e quase que por acaso, chegamos sem demora.
Nas esquinas, os mesmos de tudo, às vezes chuva com enxurrada.
Pessoas e seus afazeres, lojas e sinaleiros abrindo e fechando em seus tempos programados.
Agora uma obra impede e contrariados desviamos nosso evidente caminho.
São novas as paisagens de trajeto longo e demorado.
Preocupa-nos, pois o tempo está correndo e já são duas e tanto.
A pressa desaparece quando se vê uma casa velha de madeira com varanda, fincada num quintal com mangueiras e abacateiros e outra que tem até uma chaminé fumegante.
O pescoço torce e por um momento admira: O que mais encontrar?
E então, surge um boteco com suas portas abertas, balas em vidros, paçocas que um dia me encheram a boca d’água, tubaínas, cachaça no copo e os “com tempo”, sentados, a espera que este os alcance.
Vendo esses lugares com suas gentes, deu vontade de ver mais pessoas, ruas pouco trafegadas, asfalto novo com meio-fio “novidade”, sinalizadas apenas com “siga”.
Seu Prefeito se foi esta a intenção, quem sabe na próxima eleição a cidade seja eleita rainha de belezas ocultas, descortinadas por novas avenidas traçadas às margens de córregos, desviada de grandes árvores nativas ou ainda a mais rica, com seus tesouros escondidos por suas esquinas e vielas preteridas. Obstrua outros caminhos e quem sabe seus moradores, essa gente desatenta, percebam que tem muito mais que um centro engarrafado e um comércio apressado.
Tem bucolismo conservado de interiorismo resistente.
Tem gente lavando roupas em tanque que escorre água, nesse fundo que agora é frente e onde não se esconde mais nada.
Se outro cavalete aparecer obstruindo o caminho e se isso me trouxer constrangimento, não me desesperarei, será uma nova oportunidade de movimentar o pescoço e descobrir que existe vida fora deste nosso sentido obrigatório!
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