Milagreiro

Milagreiro
Por necessidade de instalar uma tomada furei a parede e acertei o cano. Foi água pra tudo que é lado, ainda bem que existe “o Milagreiro”.
Tive que instalar um monitoramento por câmera lá em casa, pois, recebemos a visita dos amigos do alheio. Na pressa de instalar os equipamentos a rede física foi toda adaptada, a começar pelas tomadas de tensões, vulgarmente chamada de “tomada”. O problema foi que para de ligar os equipamentos seriam necessárias várias tomadas. No momento da instalação o técnico foi logo me avisando: – Essa extensão tá dando mau contato.
No outro dia ao tentar ligar outro aparelho que fica por ali próximo, como disse, estava tudo improvisado, acabei esbarrando na do mau contato e puft… lá se foi o monitoramento. Aperta daqui, aperta dalí e nada, até li o manual antes de ligar para o técnico. – É mal contato, muda de tomada pra ver o que acontece? Não deu outra.
No outro dia fui passar isso à limpo, chega de lidar com extensões, o negócio é instalar logo uma… umas tomadas.
– Preciso de tomada dupla com bom espaçamento entre uma e outra, a senhora tem? Perguntei lá no Multiqualquercoisa.
– Tem essa extensão…, me disse a tendente.
– Prefiro montar umas tomadas.
– A preferência é do cliente, o preço é bem diferente! Nós até agradecemos a… Mas para quem quer eficiência no equipamento… e olha que o que paguei é para ser bem mais.
Em casa, de posse das tomadas e da caixa de ferramentas lá fui eu a labuta. Mede daqui, mede dali, vi que ficou boa a distribuição, marque a posição dos furos e… da lhe furadeira. Foi numa dessas que assisti ao vivo a propaganda da Porto Seguro. A água jorrou instantaneamente e com a potência que só a Águas Guariroba tem. Acertei o cano de subida, aquele que vem da rua, o arterial. A água jorrava inundando, e imundando, o ambiente e o registro acessível foi aquele do cavalete e até que chegasse por lá, pensa na quantidade de água espirrada. O controle não é imediato e o fechamento não é hermético, tem sempre o respinginho constante.
Isso nunca havia me acontecido, e olha que furo parede, acho que desde…
– Mão à obra cidadão, pensei com meus botões.
Para começo de conversa vou ter que abrir a parede , e rápido. Talhadeira e martelo em mão e dê-lhe martelada na parede. Caixa de ferramenta que se preze tem que ter um martelo e uma talhadeira! Outro dia fui na madeireira e pedi uma talhadeira, na verdade queria comprar um formão. Parede aberta, cano isolado, só falta duas luvas, um pedaço de cano e cola (você achou que minha caixa teria isso também?). Bem, era o que eu achava que poderia fazer com aquele cano esgotando incessantemente. Corro até loja, ainda bem que não estamos a dez se não só segunda, e procuro pelos itens da minha listinha. – Cano? Só barra de três metros! Se vou usar uns cinco centímetros o resto eu…
Tem coisas que se guarda para uma eventualidade e pedaço de cano é uma delas, se tiver onde guardar, não perca a oportunidade. Outro dia minha sogra precisou de quarenta centímetros a mais que uma barra de cem milímetros, aquele para esgoto, não deu outra, fucei no sótão e de lá trouxe o retalho, no tamanho, do cano necessário. Comigo não seria diferente mas ir ao sótão à aquela hora e com água escorrendo pela casa não seria uma boa ideia naquele momento. – Vou usar isso para consertar um cano na parede que furei co’a furadeira, tem outra opção? Perguntei ao atendende – Tem! É o milagreiro. Novidade para mim, a princípio… um pouco resistente. – Vou levar um desses também, além das luvas e a cola. O cano…
– O milagreiro não tem mistério, cê corta o cano, enfia uma ponta, empurra, volta pro lugar e encaixa. Simples de tudo, não vai nem cola, descasca mais um pouco a parede pra dar o balanço no cano.
– Descascar mais?
– Uma ferida a mais no corpo do leproso!
De posse dos apetrechos voltei lá pra ver o leproso escorrendo água. Serrei o cano e até que o cano desse o balanço, abri mais algumas feridas. Lixei a borda de cima e a de baixo, com lixa de ferro e lima (boa esta minha caixa, tem até lixa). Aparentemente o caminho estava aberto para o milagreiro. Encaixaaaa, giraaaa e nada da coisa subir (não sei se disse “o cano que sobe…”). Lixei mais um pouquinho, sabe como é, vai que sobrou uma rebarbinha, mas nada. Um pouco mais de foooooorça, que àquele instante já se aproximavam dos quarenta e quatro e mesmo assim nada… Desconfiei logo destas novas tecnologias que ainda precisam de um prazo para se adequarem e caírem no domínio popular. Para mim faltava uma técnica, que o atendente lá do Tentação Utilidades que fica ali na Capibaribe, se esqueceu de me passar… Para minha surpresa, me veio a lembrança do finado Manoel Livino, o querido das meninas (qualquer dia desses fale dele) e dos seus cinquenta centavos de cuspe na ponta dos dedos, não deu outra, cinquenta pra cima e cinquenta pra baixo. O milagreiro até me agradeceu a forcinha. Subiu e desceu encaixado!
Tapado o buraco, vamos ao teste do abrir o registro, pedindo pra Águas ser mais suave. Tá La o milagreiro no lugar, na parede aberta, e nem uma gota d’água, nem uma gota d’água.
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