Pela manhã, logo cedo, antes das sete, o celular havia registrado duas chamadas. Tratava-se de minha tia Bita. Ela sempre me liga, mas no fixo, desta vez ela encontrou o meu número.
Ultimamente o celular passa a noite ligado, mas conectado na tomada e logo quando acordo dou uma olhadinha nos registros daquela madrugada, que além dos whats, tinha ligações telefônicas. Como havia logo duas ligações do mesmo número, retornei assim que vi. Era minha tia Bita, me comunicando da Festa da Padroeira que estava acontecendo lá na igreja Nossa Senhora Conceição Aparecida, da Vila Planalto. Como parte dos festejos dos 40 anos da Paróquia estava ocorrendo todos os dias, às 19 horas, missas com temas variados e naquele dia haveria uma procissão com a participação dos primeiros componentes da Comunidade. Minha tia me fez o convite para que fosse à celebração e participasse da procissão do ofertório. Haveria a entrada de um “pergaminho” com o nome dos Pioneiros, que formaram o Grupo de casais que se reuniam nos primeiros anos de existência da Paróquia. Eu participaria representando meus pais.
De convite aceito, tratei de organizar a logística para participar do evento. Combinei com a patroa para que levasse minha filha ao Judô. De banho tomado e perfume aplicado, às 18 horas, consegui chegar com antecedência na igreja. Ela fica na frente do Comper. Quando vou por lá, deixo o carro no estacionamento deste, atravesso a Tamandaré na faixa e encontro a porta da igreja bem acessível. Minha tia já estava a minha espera. Me pegou pelo braço e me levou até a comissão organizadora da celebração. Cumprimentei alguns dos pioneiros presente, que eram o Jurandir, Dona Isa, Dona Lourimar, Dona Elisa, Dona Marlene e Joana. Sentamo-nos em lugar escolhido por minha tia que ficava longe do vento do ar-condicionado. Aguardaríamos por ali o momento da procissão.
A cerimônia foi organizada para relembrar os anos iniciais da Paróquia através da narrativa de fatos que marcaram a sua história. O Padre Orlando e sua bicicleta, o Baile da primavera e o grupo de casais foram citados em uma missa celebrada pelo Arcebispo Emérito Dom Vitório Pavanello.
Durante a celebração tive oportunidade de relembrar os gloriosos anos iniciais da Paróquia. Lembro-me de participar da igreja desde muito antes de ser elevada a Paróquia. A Capela Nossa Senhora Aparecida fazia parte da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, hoje Santuário Estadual. Antes de se tornar Matriz da Paróquia foi o local onde fiz minha primeira Comunhão, me preparei para minha Crisma e posteriormente me casei. O local onde estava assistindo à celebração foi erguido para se tornar um Centro Comunitário. Os recursos para sua construção vieram do exterior. O grupo de casais, do qual participava meus pais, estava à frente da comissão de construção. Foram anos de trabalho, tanto na parte de execução da obra como para angariar fundos para tocar a obra, através de almoços dominicais realizados uma vez por mês. Os recursos vindos do exterior eram liberados assim que as etapas eram finalizadas e se não me engano com tempo previsto para a execução. Enquanto a edificação subia as celebrações aconteciam na capela de madeira e até que o telhado e o contrapiso ficassem prontos muita poeira foi levantada.
Lembro-me das dificuldades nos anos iniciais. O pároco improvisou sua moradia na sacristia, até que a casa paroquial fosse erguida. O primeiro meio de transporte foi a bicicleta. Havia um rodízio para receber o padre para o almoço nas casas dos paroquianos. A nossa muitas vezes recebeu a ilustre visita. Lembro-me das orações antes das refeições: “Bendito sejais senhor Deus do Universo pelo…” ainda ouço o tom da voz do padre Orlando todas as (raras) vezes que recito esta oração. Lembro-me também da resistência e oposição à atuação do padre para com alguns dos fiéis. No final das missas, quando ocorre os avisos da comunidade, o padre apresentava o balancete com a movimentação financeira da paróquia. Em uma oportunidade a maioria dos fiéis se levantou e foi embora, antes da benção final. Sei bem quem estava por trás do movimento e não aceitava as ações do padre que era “linha dura” nos seus conceitos. Minha mãe ficava no meio do fogo cruzado, pois era bem relacionada com o padre e com sua oponente. O Padre Orlando com toda certeza está Céu, pois sempre foi firme em seus propósitos.
O Baile da Primavera aconteceu por iniciativa do grupão. Naquele ano o contrapiso do centro comunitário já estava liso, inclusive as maiores celebrações aconteciam por lá, desde que os fiéis ajudassem no translado dos bancos. O nome da banda era Lilás. Outro baile aconteceu no mesmo local três anos antes, também por iniciativa do Grupão, resultado de um encontro ocorrido na chácara de Antônio e Maria Helena. Naquela ocasião aconteceu uma surpresa para a aniversariante. Uma caravana se deslocou até Bonfim, MS, e ficou por lá festejando, dançando e churrasqueando por dois dias. A animação ficou por conta de um conjunto musical que posteriormente veio animar um baile no Centro Comunitário.
O Grupão também proporcionou a realização da festa de quinze anos de minha irmã. Graças ao empenho de todos a festa foi um sucesso.
As festas em louvor a Nossa Senhora sempre foram um ponto alto na comunidade. A princípio quem estava à frente era a Sociedade São Vicente de Paula, na qual meu pai era integrante. Sempre havia quermesse.