Frequento o urologista por recomendação do cardiologista. Na clínica onde sou atendido tem também um cirurgião, mas a história seria outra. Dr. Juliano, o urologista, atende por lá, junto com outras especialidades. Todos atendem o convenio. Sou dependente da patroa até neste plano. Ela em cobra a frequência nos médicos.
Possuo dados de PSA (Antígeno Prostático Específico) desde os 40 anos. Inicialmente quem solicitava era o cardiologista. Os valores estavam dentro dos índices esperados, mas devido a variações, o Dr. Marck me encaminhou para o urologista. A partir de então os exames foram ampliados. Passei a fazer ultrassom da bexiga. Media o volume residual de urina depois de urinar e, tentar, esvaziá-la. Sempre fui do limite. Com este sintoma, desconfia-se que o caminho urinário entre a bexiga e a ponta do pênis estivesse sendo obstruído e uma das causas mais comuns é o crescimento da próstata. Tomei remédio para hiperplasia prostática benigna, mas novos ultrassons, a obstrução continuava e se não regredisse faria o musculo da bexiga forçar o esvaziamento, causando danos à parede desta. Não estando esvaziada as micções aumentariam de frequência.
Um dos principais sintomas do crescimento da próstata são as constantes necessidades de urinar à noite e a diminuição da força do jato. Durante o dia nota-se a perda de autonomia e a urgência para urinar, além dos constantes extravasamentos. Às vezes a vontade passa a ser tão incontrolada que, em trânsito, eu tinha que ter um plano de voo. Marcava locais com acesso ap WC. Apesar desta sintomatologia a vida transcorria normalmente. Estava disposto para continuar trabalhando, frequentar academia, pedalar e fazer caminhadas e outras “cositas más”.
O sinal amarelo acendeu um ano antes do diagnóstico. Os índices do PSA estavam dentro do esperado, o problema estava nas variações. Existem valores aceitos dentro da normalidade, com aceitação de variações anuais. Desde os 40 anos passei a ir regularmente ao médico, a cada seis meses, mesmo achando que estava bem de saúde, era o que eu sempre dizia para a patroa. Quando estive no consultório, em janeiro daquele ano, ok para os exames, mas em junho e janeiro, foi assustador. Fui encaminhado para biópsia. O exame aconteceu com a retirada de tecido de doze lugares mapeados na próstata, com acesso via retal. Se a grande “resistência” é fazer exame de toque, aguarde a necessidade de um exame como este. A patroa me acompanhou naquele dia e levou o material para biópsia, enquanto eu voltava da anestesia.
Em todo meu acompanhamento fiz apenas um toque, que para minha surpresa foi totalmente diferente do que apregoam. O acesso à minha próstata foi feito via retal, comigo deitado de barriga para cima, de frente para o doutor. Um toque rápido e incisivo. Com isso o médico identificaria algum nódulo. Nesse estágio o câncer já teria atravessado várias camadas do órgão. O exame é acessível e se houver alteração, o estágio estará avançado. Não foi o meu caso. Quando o doutor fez o toque estava tudo bem com a superfície da minha próstata.
Com a positividade da biópsia para o câncer, fiz um exame de Ressonância Magnética Nuclear, para confirmação. Fiz também uma Cintilografia Óssea, para diagnóstico de câncer ósseo, principal metástase. Por sorte o câncer estava bem localizado. Aguardei quarenta e cinco dias para realizar a cirurgia de retirada da próstata com vesículas seminais e tudo, a prostatectomia radical. Me internei no sábado e na terça-feira estava em casa. Quando acordei da anestesia a patroa estava ao meu lado. Fiquei de molho sessenta dias, sendo que nos quinze primeiros dias com sonda uretral. Depois disso, levo uma vida normal. Retorno ao médico a cada três meses, quando realizo monitoramento via exames de sangue para medir os níveis de PSA. Não tive incontinência urinária. Se a recuperação ocorrer de forma esperada em dois anos não terei sequelas.
Em uma oportunidade bem antes de passar por esta situação, quando fiz um dos ecocardiogramas, o cardiologista me perguntou se eu ainda teria filhos e se já havia pensado em extrair a próstata. Fiquei pensativo. Sobre os filhos já tinha uma noção, mas a retirada da próstata era uma coisa muito distante. Passado algum tempo, me vejo nas duas situações. É possível se viver sem próstata.
Tive a iniciativa de relatar minha experiência para chamar a atenção de homens que por não se sentirem doentes, não procuram médicos. O caso do câncer de próstata é mais um silencioso estado doentio. As campanhas às vezes não atingem os homens que ainda resistem. Para quem me conhece, espero que com este breve relato, possam reforçar a conscientização de outras pessoas. O fator cura está relacionado ao diagnóstico precoce. Me sinto curado, até o momento, graças a Deus, aos médicos e ao apoio da minha família.
Interessante, Aluísio. É Autorreferencial?
Muito bons os textos. Andei lendo alguns !
Parabéns,
Walesca Cassundé
Obrigado Walesca.
Conto um pouco da minha trajetória às vezes misturado com alguma ficção.