As entranhas do intestino
Quando se fiz a cirurgia a equipe médica deve ter feito uma lavagem intestinal em mim. Não tenho detalhes, pois estava anestesiado. Só sei que de intestino vazio, e sem a próstata, sai do centro cirúrgico e fui para a UCO.
Quando estava na (UCO) unidade coronariana, recebi as refeições normalmente. Perguntei aos enfermeiros se havia alguma recomendação sobre minha alimentação e, após consulta nos prontuários, não havia nenhum apontamento sobre, comi o que me serviram. À tarde lanchei, à noite tomei uma sopa. No sábado, dia da cirurgia, não tive por que me preocupar em ir ao banheiro, nem no domingo, mas na segunda, quando fui para o quarto, o intestino começou me enviou umas mensagens. Eu de pronto já queria atender aquela necessidade, mas nada, só ficava na vontade.
Eu, nos meus acessos de defecação, buscava alívio em algo que me distraísse. Naquelas horas me lembrava do Mussum, grande Mussum dos Trapalhões, quando ele querendo ser erudito com a situação diria:
— O chegadis! Dizendo ao enfermeiro, eu tô a fim de raspá o pavimento, de liberá o kibis, de coloca prá passesis a barrigada, tem comis?
Aquela não seria a melhor hora para achar graça em nada, eu não podia forçar o abdômen, mas também não controlava os pensamentos. Hoje sempre que posso dou uma olhadinha na nostalgia dos tempos dos Trapalhões.
Recém operado fiquei ressabiado de fazer força, colocar tudo para fora e estourar os pontos.
Tive alta logo na terça e em casa o barulho continuou. Estive incomodado pelos próximos dias. Relatava para o doutor, nas msn de whats, mas ele me dizia que estava dentro do esperado. Eu estava como galinha com ovo encloacado. Enquanto permanecia deitado tudo bem, mas qualquer movimentação, a força gravitacional atiçava é lá eu me via sentado no vaso querendo fazer uma “cagada”. Antes fosse uma literal.
Me alimentei normalmente, só que aqui em casa pude consumir frutas, item do cardápio que no hospital não tive. Nas sexta-feira, depois de muito insistir, o doutor me recomendou “Planta Bem”, um envelope para misturar em água e tomar. A bula recomenda tomar até três ao dia, mas no primeiro dia tomei um. Como efeito não foi imediato, no segundo dia tomei dois. O efeito só foi aparecer no domingo à noite, para meu alívio. Aquilo foi, para mim o melhor efeito experimentado no pós-operatório. Acho que o meu semblante sofrível deu até uma melhorada.
Para os próximos dias executei o trânsito intestinal proporcionado pelos envelopes que ingeri e logo tudo tendeu à normalidade. Suspendi a medicação porque o “Planta Bem” faz o combinado, dá consistência e facilita a evacuação.
Como a próstata fica bem próxima da porção terminal do intestino, ao ser retirada o organismo passará por adequações. Está proximidade é que proporciona, o tão temido por alguns homes, exame do toque que é feito pelo ânus. Diga-se de passagem, que este exame é uma massagem para quem tiver que fazer uma biópsia da próstata.
Quando a próstata é retirada o intestino passa por uma acomodação, que causa dor, principalmente quando o bolo fecal chega à porção terminal do intestino e fica aguardando novos carregamentos. Enquanto a ampola não for preenchida, e fazer pressão, não há por que evacuar. A lavagem intestinal esvazia o seu interior e até que nova massa apareça demora, vai depender de novas, e adequadas, ingestões de alimentos.
Reclamava com as visitas, que me perguntavam como eu me sentia. Eu lhes respondia que depois que conseguisse evacuar tudo melhoraria. Minha sogra me recomendou alguma coisa como laxante, mas a princípio ache que seria agressivo. Meu sobrinho Guilherme que veio me visitar junto com a Rosangela, me perguntou se eu estava deixando o reto, reto, ou seja, erguendo a perna a uma altura adequada para isso e eu lhe disse que iria tentar. A minha comadre Nadir, lá de Campinas, me perguntou se eu já tinha comido quiabo com baba e demos boas risadas, apesar do meu estado não estar propício para forçar a barriga.
Essa história de comer quiabo me ocorreu no Colégio, onde eu e a comadre trabalhamos juntos, quando eu almoçava por lá.
Um belo dia, tive meus tempos normais pela manhã e à tarde teria aula em alguma outra atividade. No almoço teve quiabo, com babá. Depois da soneca escondida, porque lá é terminantemente proibido, principalmente na sala de professores, fui para a sala de aula e acho que o dito cujo, ou a babá, não me caiu bem. Comecei a emitir os avisos de forma bem discreta, mas o problema não foi o barulho. No exato momento do alívio, me lembro de um aluno se aproximar para perguntar algo sobre a aula, e eu vendo que a vaca já tinha ido para o brejo, fui me encaminhando em direção à porta e lhe disse que precisaria dar uma “saidinha”, mas já voltava. Fui ao banheiro às pressas e por lá permaneci quase que o tempo da aula. Quando retornei, a sala toda já sabia onde eu tinha ido e o que tinha ido fazer. Comentei que eu gosto de quiabo, com babá.
Em todos estes anos de sala de aula tive poucos contratempos. Dificilmente me ausento de sala. Certa vez, em uma ressaca das bravas, com dor de cabeça e ânsia de vômito, estava disposto a me segurar até o próximo intervalo, mas a “gorfada” me encheu a boca. Como estava próximo da janela, por necessidade de tomar ar devido ao estado deplorável em que me encontrava, intentei enfiar a cabeça para fora e “gorfá”. Minha testa foi de encontro à grade, recém colocada, que me resultou em um galo e com o susto, a ressaca sumiu.
Até hoje eu me pergunto: Qual a utilidade daquela grade?
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