Aleluia, é sábado

Aleluia, é sábado

O sábado de aleluia prometia. Bem cedo, eu e meu menino, o Miguel, fomos ao Bioclínico arrancar o sangue, como havia combinado na véspera. Foram oito horas de jejum, mas acho que deu umas dez. Dificilmente janto, mas não deixo de comer umas porcarias. Tive que deixar de lado a Heineken, por ser dia santo e porque estaria eu na véspera de arrancar o sangue, acho que isso interferiria. Fiquei sabendo, no momento da agulhada, que além do sangue teria que ter levado urina também, que contratempo, isso porque estive, durante a semana no lab. para adiantar o expediente e só me recomendaram o tal do jejum, de oito horas. Voltaria outro dia com a urina coletada até duas horas antes.

A patroa iria à manicure. Teríamos que retornar antes das oito. Eu ficaria encarregado de levar os nossos carros ao lava-jato, e de quebra, fazer as compras no sacolão, aquele da Júlio. Teria, ainda, que reservar um horário para uma visita ao Gutierres, nosso barbeiro.

Levei a patroa até a Antônia, sua manicure, e voltaria para casa. Ficaria esperando o lava-jato ligar para buscar o carro que estaria pronto e deixaria o outro. Enquanto isso, em casa, coloquei a criançada para arrumar o quintal. Eles reclamaram desde o início. O trabalho consistia em rastelar a grama e tirar os cocôs dos pets, lavar a calçada e correr pro abraço, na frente da TV. Eu regaria as plantas, incluindo as orquídeas, uma a uma, com aquele regadorzinho de cabo na ponta, aquilo da até vertigens.

Lá pelas dez, fiz a troca dos carros no lava-jato e logo em seguida a patroa ligou me tratando de “Jarbas”. Almoçamos ovo frito no micro-ondas e como a patroa iria à Rose, sua cabeleireira, logo no começo da tarde, tivemos que ir buscar o carro, no lava-jato, de Uber. As crianças adoram Uber!

Quando chegamos ao Gutierres, disse chegamos, pois quando falo em ir ao barbeiro, a Laura, que sabe que lá tem um pote de bala; adora ir. Sentei-me na cadeira e, como sempre, coloquei a conversa em dia.

-Vim para dar um trato. Dentro de alguns dias vou ficar internado.

-É mesmo?

-Vou tirar a próstata!

Assim que disse, me olhei no espelho e senti que o tempo tinha passado. 52, quem diria? Por sorte arrancado a próstata. Sorte por que o diagnóstico foi precoce. Quantos cortes de cabelo já havia feito com o Gutierres? Desde o tempo em que era na Capibaribe… Senti um aperto no peito que me fez marejar os olhos. Não deu para disfarçar, ainda mais que eu estava olhando para mim mesmo. Já se encarou no espelho? Experimente! Até lágrimas me escorreram. Quantos cabelos ainda cortaria naquela cadeira? De agora em diante sem próstata. Deus permita!

Resolvi que seria melhor mudar de assunto…

– E o tio Ney, já trouxe o menino para um corte por aqui…

Depois do corte, coisa rápida, Gutierrez me desejou votos de boa cirurgia.

Em casa, de cabelo cortado e banho tomado, iniciamos os preparativos para a apresentação que faríamos, junto com o coral da igreja, na missa da Vigília Pascal.

A patroa mandou um Whats avisando que o dinheiro do sacolão estava com ela e que por isso ela mesma iria por lá. A Adriana catequista pediu dez pãezinhos franceses, para o lanche da turma. Vi em outras mensagens que ia ter “hot dog” na igreja.

A vigília pascal daquele sábado seria longa, pois além do manda a liturgia, ainda teríamos mais uns batizados. Acho que até às vinte e três ainda estaríamos por lá. Ruim para a Laura, que até aquele horário estaria lutando para não cair no sono. Mas companhia da Vó Dina e outros primos, o que fez ela ficar acesa até o canto final.

Para mim todos os significados da missa estavam concretos. Uma nova vida ressurgiria.

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