Passado
Aloízio de Oliveira
Encontrei na velha estante
A antiga lata vazia estilizada de Nescau,
transformada em porta treco.
Senti que o chocolate não envelheceu.
Lembrei-me que
Entre os trecos que lá dispunha,
Tinha um chaveiro de resina amarelada
Com inseto mortificado,
Deitado sobre outros cacarecos,
Na esperança de afugentar intrusos.
Na lata fechada, guardada na estante,
Deixei o tempo escolher a chave,
Para que junto ao inseto mortificado,
Girasse o buraco da fechadura,
Daquela porta empenada que rangia
Ao riscar o piso e avisar que abril.
Tapou o que eu ainda queria reviver,
com coisas guardadas como treco.
Latas vazias que guardavam coisas
Que um dia me fariam falta.
Mas agora que sou sem o que guardei
Tenho trecos e passado,
me falta memória para encontrar
A estante, a casa com porta empenada,
E a luz fraca do quarto,
Do ano em que encontrei os trecos
E os descrevi como mortos.
(Visited 7 times, 1 visits today)