NAQUELA PLANALTO – Recordações da Vila Planalto, Campo Grande, MS

18/05/2010 

NAQUELA PLANALTO
Planalto na cidade é bairro de onde se vê o Centro. Já foi a última mas, hoje é a primeira. Lugar onde a cidade se misturava ao campo. Onde se ouviam apitos do trem, sinos de São Francisco às cinco e os onipresentes galos na madrugada. Via-se boiadas em sinos, cerca de arame farpado, cavalos, carroças e charretes. Peão, à cavalo, chegando de onde ? Saindo do mato, amassado capim, espanando folhagens levantando poeira. Fogo na Brachiaria espantando preás. Um Lugar de vivências diversas. Japonês mudo e alemão bandido. Um Grupo Escolar com cheiro de leite com aveia, álcool de mimeógrafo e de quentão em festa junina, em junho! Aos sábados cheirava cera, vermelha. Suas janelas sem cortinas e o sol do fim da tarde anunciavam na TV, ali ao lado, o Sítio do Pica-Pau-Amarelo. Professoras, diretoras, inspetoras, secretárias, merendeiras, faxineiras e o seu guarda. Obrigatoriamente não se lia Iracema “a virgem dos lábios de mel”, só o Gibi do Fantasma. Lugar com seus paladares e cheiros de seus fogões à lenha e a novidade, os à gás,, comprado no caminhão. Juntavam-se cavacos, tocos e gravetos. Também se catava esterco. Tinha bucho cozido cheirando aperto, necessidade, dureza, comprado de bucheiro ou peixeiro em suas bicicletas cargueiras. Feijão catado, de molho pousado. Suco de limão rosa. Pão doce, nem sempre. Com Luz elétrica puxada de longe querosene não queimava mais gente. Água encanada, em canos de ferro enchia balde do poço. Banheiro de tábuas apodrecidas, uma bacia e um banho diário com água quente “quentada” em chaleira. Dentes escovados cedo no tanque com roupas de molho. Lavador de louças secadas ao sol e água escoada em rego, rio de guri fazer ponte. No silêncio da noite, ruas escuras, faróis invadiam frestas, desenhando sonhos. Na cama os quatro, eram cinco, Pai viajante. Atacava a bronquite, chiava o peito, Vick Vaporub e tosse. Luzes acesas na noite. Farmácia fechada. Mãe, Mulher estudada, abdicada, escrituraria, contadora e agora do lar,  se não no tanque, no fogão, na missa ou nas APM´s. Se tem festa na Aparecida tem Maçã do Amor, mole. Naqueles latifúndios de 15 por 60 os parentes moravam próximos. À noite TV na casa da tia e na volta um trilheiro e o homem da capa preta, da novela. Uma bicicleta para cinco e dois destinos. Domingo tem missa, Vó Tofia, Fantástico e Maria Coelho subida, à pés, do centro ao Planalto. Do campinho, pra bola e pandorga, se via a Morena lá longe. Os letreiros das lojas no centro na outra crista do vale e lá embaixo um Segredo. Se chovesse, Táxi não ia e São Francisco não subia a América depois de batalhar na Riachuelo. Ruas cascalhadas.
Telégrafo, quartéis, paióis, matas, guavirais, hangar, buracões e samambaias. Um lugar pertinho das lembranças aonde não se chega mais, só se passa.
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1 Comentário

  1. Rosilei Rezende 16/11/2020 em 9:20 pm

    Amei a poesia! Sou da Planalto. O texto me fez viajar, voltar no tempo…. Como foi e é bom morar aqui. 👏👏

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