As Mortes!
Seguia o cristo morto ladeira abaixo. Fiéis paroquianos, que após a celebração daquela sexta-feira santa, recolhiam-se nos seus silêncios, e meditavam a morte do cristo. Venciam ruelas estreitas do Zé Pereira em busca da Pinto d’água e a Matriz. Seguiam um cortejo. Revezavam, nos ombros, o peso de um cristo julgado. Indiferentes, ao som de suas músicas profanas, transeuntes sorviam doses em um feriado santo profanado. Sexta-feira de um “sextou” recomendado em uma tarde no fim. Feriado santo para profanar o sacro. Motos apressadas e suas encomendas, ultrapassando o cortejo encontrariam o destino de um vivo endereçado. Chegariam bem antes ao lugar do sepulcro. A bordo, em seus ombros, o minúsculo embrulho escondido, representando o seu cristo adorado. A santificação momentânea da passagem dos sinos, atraía descompromissados olhares alheios. Teriam eles motivos para matar e celebrar desta forma? Ruas transpostas por destinos diversos e um cristo interposto entre todos. A cada, o sagrado caminho de um cristo seguido. Transversais bloqueadas e o cortejo passando, tem um rio a correr e a passagem guiada. Guardaremos, ao final da subida, os joelhos doídos e os pés latejando. Os que seguem o cristo, se compensam da dor, de seguir na ladeira, de nos ombros sentir, que o difícil é viver e carregar. O sepulcro que aguarda é onde o cristo revive, nos testemunhos celebrados de uma igreja concreta.
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