VINTE E CINCO ZERO NOVE

VINTE E CINCO ZERO NOVE
Oliver Alóis
Se você é um dos Oliveiras e se este número não lhe é familiar, possivelmente, e eu acho muito difícil, nunca tenha usado um aparelho telefônico e discado (de disco) solicitando um socorro. O telefone não era de nenhum serviço que se presta socorrer pessoas como bombeiros e polícia, tratava-se do telefone da “Mansão dos Aialas”, como carinhosamente a parte desfavorecida da parentaia se referia ao local. O assunto tratado o leitor já pode até antecipar: Um pedido socorre!
Do outro lado da linha na maior tranquilidade, em detrimento ao desespero do desamparado, a voz já entrecortava a ladainha esperada e perguntava: – De quantos! Era o socorro providencial, alívio ao suplicante.
Tive, e tenho, em minha vida, desde a minha infância, fortes personalidades que me influenciam o caráter, e um destes trata-se de um Tio, irmão de minha mãe, de nome Arnóbio de Oliveira. O Aprovisionador de bens materiais que nos incentiva, através de suas ações, um modo de se alcançar uma autonomia financeira. Se o problema era dinheiro eu acho que ele resolvia, mas também acho que nunca foi, pela persistência da nossa posição social.
Lembro-me de quando ficou sabendo que eu criava pintinhos para engorda e que tinha como clientes as Tias e a Avó e os engordava com restos de comida recolhidos de suas respectivas casas. Ele quis me presentear e não se fez de rogado, mandou entregar uma caixa com cinquenta pintinhos com um simples recado: “-Era para o começo”. Pelo visto se hoje não tenho a tal autonomia financeira, não foi por falta de incentivos. Se for citar outras oportunidades em que este senhor estendeu as mãos a seus entes queridos, estaríamos diante de histórias que comporiam um livro*.
Hoje passados dois anos de sua morte, restou-nos além do legado, o parentesco com os entes queridos, tia Maria, Tânia, Otho, Arnobinho e Agregados. Lembro-me desta ocasião e de outros entes que estiveram presentes para prestar-lhe uma última homenagem. Lembro-me da quantidade de alças que compunham a urna mortuária. Lembro-me que se algum dos presentes fizesse questão de empunha-la e se fosse seguido pelos demais haveria falta tal a quantidade de pretendentes. Um gesto antagônico em que em vida muitas vezes aquele senhor carregou-nos pela alça, mas não para nosso sepultamento, mas para a uma vida melhor.
*Já falei com Dona Maria de lourdes sobre o caso.
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