É SERVIDO!
Aloízio de Oliveira
Esta eu contei quando da visita que fiz aos meus compadres Nadir e Eduardo lá em Campinas, nas férias deste ano. Estávamos todos à mesa, saboreando o delicioso bacalhau, sem sal, que só a comadre aprendeu como tirar, preparado com batatas e acompanhado de arroz com amêndoas e incontáveis garrafas de vinhos. O “-É servido” surgia espontaneamente entre um prato e outro, o que me fez lembrar de uma história passada com seu Mário, vizinho conhecido em comum, dos tempos em que a comadre morava lá no Bairro Serradinho.
Seu Mário, pedreiro de colher cheia, prestava-me um serviço para o qual precisou da ajuda de um sobrinho de sua patroa, um “Oreia” como se dizia.
A empreita atrasara pois o “oreia” não chegara no horário combinado, atrasando o serviço. Chegara mais tarde, pois havia perdido a hora. Fôra buscar a mulher, na noite anterior, na escola. A mulher havia encerrado um curso e naquela noite aconteceu a cerimônia de formatura, atrasando seu regresso.
Como de costume, quando foi buscá-la, encostou seu Chevetão nas proximidades da escola no lugar previamente combinado e ficou esperando a esposa. Já passará do horário normal e como via movimentos lá dentro da escola e barulho de aplausos, resolveu deitar-se no banco do carro e por ali aguardar a chegada da digníssima.
Para sua surpresa e sendo o local ermo, inclusive ficava ali na Barão de Melgaço esquina com a Pedro Celestino, debaixo daquelas palmeiras, aproximou-se do local onde estava, um casal de afoitos namorados. Ele na maior discrição permaneceu imóvel, segurando até a respiração, para não atrapalhar o desenrolar dos amassos e esfregas. Em um determinado momento a moça abaixa-se tirando do bolso do rapaz uma flauta e dali tirou dó, ré, mi, fá, sol, lá sem dó, o que o fez movimentar-se involuntariamente, chamando a atenção da engasgada moça. E nem por isso se sentiu intimidada, permaneceu no seu vai e vem frenético, só dando uma paradinha para pedir “- Cuida ai tio!”.
Seu Mário ao ouvir aquela desculpa esfarrapada, já com uma sisma do “oreia” foi logo cortando assunto:
“-Cuida ai tio, que nada, ela ‘falô’ – É servido moço!”.
Acho que as próximas refeições foram menos formais.
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