CASSAÇÃO, CAFEZINHO E AMORIM.
Aloízio de Oliveira
Dificilmente, no horário comercial, estou em casa mas desta feita foi logo depois do almoço que ouço o interfone:
– Pois não?
– Senhor Aloízio?
– Sim, quem quer falar?
– Agente Souza do GAEBO*.
Numa hora destas o jeito e correr, no meu caso, correr para atender, já que não sabia do que se tratava. Soube que já estivera outras vezes a minha procura, mas ninguém na casa quis saber de assinar o papel. Disseram que era só comigo, ainda mais papel do GAEBO. Fui assinando ao lado de tudo que era “X”, ficando com um comprovante em que marcava data, hora e local para comparecer e prestar esclarecimentos.
No dia marcado sem demora me pus à frente do delegado que em sua sala estava atrás de uma mesa e anexo, uma escrivaninha com alguém prestes a tomar os apontamentos.
– O senhor tem advogado?
– Tenho, mas não me acompanha agora.
– Então acha que não vai precisar?
Eu, um homem digno, em divida com a Lei? Vamos adiantando o expediente seu delegado, fala logo do que se trata, pensei eu cá com meus botões.
– Se o senhor não sabe eu explico: O GAEBO esta com uma força tarefa para esclarecer fatos que ultimamente vem acontecendo nesta cidade e em uma das linhas de investigações chegamos ao vosso nome. O senhor faz ideia de como?
Eu hein, envolvido em algum fato que necessite esclarecimento… Tô fodido! Mas vamos ao que viemos:
– Pode explicar o que vem a ser um “cafezinho”? Foi a primeira pergunta feita em tom irônico.
– A bebida? …Deve ser um café servido numa “xicrinha” pequena ou pode ser… coisa pequena, fácil, insignificante como uma gorjeta, seria isso ou estou enganado? Fui respondendo de forma direta.
– As perguntas quem faz sou eu, disse o delegado. Continuando virou-se para a escrivaninha lateral ditando: “E perguntado se… respondeu que…”.
Outras perguntas foram surgindo como: – O termo amorim lhe é familiar de onde? E cassação, na sua concepção qual o significado?…
E foi de pergunta em pergunta dando trabalho ao ajudante da lateral. Eu até tentava achar uma explicação plausível, mas quanto mais falava mais me complicava.
– Conhece alguém com um destes nomes Saraiva, Magali, Cabeludo, Cazuza, Saci, Betinho, Coringa, Professor, Chocolate, Carlão e Chiquinho?
– Oh se não, todos! e de longa data seu delegado, acho que desde a tenra infância. Esta é quase a escalação do timaço lá do campinho. Eu bem pude recordar a origem destes apelidos: O Saraiva tinha sempre uma resposta na ponta da língua, detestava pergunta idiota; O Magali comia de tudo e bastante, igual aquela amiga da Monica; Se eu não me engano o Cabeludo era só Cabelo, coisa que ele não tinha, daí o apelido… e por ai vai, é claro que o delegado não quis saber desta conversa.
– E perguntado se … Respondeu que… era o discurso que o delegado ditava.
Pela cara do escrivão a coisa, para mim, estava descambando e para o delegado um motivo de contentamento, acho que tinha achado o que procurava “- Este peixe era dos grandes!”.
– Acho que é o suficiente, disse-me o delegado. Devo-lhe uma satisfação sobre sua intimação, o GAEBO cruzou os termos cassação, cafezinho e amorim em todas as ligações telefônicas efetuadas no período transcorrido e coincidentemente em uma de suas ligações encontramos os três termos nelas.
No meio do depoimento toca o meu celular, que por um lapso não tinha colocado no silencioso.
– Seu delegado, se eu não me engano, acho que tenho direto de fazer uma ligação. Posso trocar por atender a uma? E o delegado muito dono de si vendo que não faria diferença, permitiu.
– Amorzin? Passa por lá, o cafezinho tá no jeito. Hoje, depois que sair daqui, eu vou coçar, “coçação” é comigo mesmo!
*Google Acha É Buscar e Oh!
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